sábado, 8 de novembro de 2014

Estudo sobre a memória VIII



Louros de uma vitória injusta,
prados já há tempos queimados,
palavras em silêncio
agora que te ausentas.

Já não és uma presença
e qualquer sinal de Deus
se desvanece na injustiça
desses silêncios semoventes.

Apagados os traços das cinzas,
todas as almas se regozijam
com o uni-verso dos poemas
impressos nas tuas pegadas.

O cantar se faz sopro do tempo,
amálgama de sonhos e fogo,
promessas de um retorno impossível
e Ítaca que aparece no horizonte.

Não mais te percebo nem em devaneio,
apenas me dás uma imagem de outrora:
já veneno, abatida por estas armas
que são as palavras silenciosas

de todo poema...

Imagem: Johannes Vermeer. Mulher segurando balança. 1662-3. National Gallery of Art, Washington.

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