O mundo artístico é muito complexo, diletante, imprevisível, também por sua ligação estreita com a fama e o dinheiro. Um mundo peculiar, que por vezes se parece com o mundo dos proxenetas. Os intermediários transformam em dinheiro a paixão pela arte, seja a de quem produz, seja a de quem compra. Compra-se (vende-se) parte da poesia, da alma, da inteligência de uma pessoa. As relações sociais e financeiras tornam-se complicadas e difíceis. A amizade entre galerista e pintor é muitas vezes a mesma que há entre o crocodilo e a cegonha do poema de Kipling. A pintura é uma coisa sagrada que se põe à venda. É como vender ossos de santos, relíquias...
Tenho um pequeno desenho de Klee no qual, observando com atenção, pode se ver um pelo ou fio de cabelo de Klee, talvez do bigode ou da sobrancelha, não dá para saber direito, colado à tinta desde quando ela ainda era líquida. E assim também eu tenho a minha relíquia: um pelo de Klee.
Saul Steinberg. Reflexos e Sombras. São Paulo: Instituto Moreira Salles, 2011. Trad.: Samuel Titan Jr. p. 164.
Nenhum comentário:
Postar um comentário