Caproni é o mais cidadão dos poetas italianos do século XX. Em nenhum outro como nele a poesia vive integralmente da cidade e na cidade. Montale e Penna, nos quais também vibra uma tensa atmosfera metropolitana, permanecem indissoluvelmente ligados um à concisa paisagem lígure e o outro ao doce campo úmbrio. A poesia de Caproni é, ao contrário, inexoravelmente cidade. E não somente Gênova ("eu sou feito de Gênova!") e Livorno, mas também, de modo mais submerso e quase sufocado, a nunca nomeada Roma - não a Roma monumental e histórica, mas a semi-periférica e impura dos bairros nos quais por muito tempo o poeta viveu: Monteverde (nas duas contíguas variantes ditas "velho" e "novo"). E quando, exatamente no fim, um desabitado campo começa a aparecer sempre mais áspero e noturno na sua poesia, acontece concomitantemente ao romper-se da maravilhosa tessitura da métrica caproniana. É a sua própria poesia que se desfaz e se perde nas angustiantes paisagens do Conte e de Res amissa. Assim, Caproni viveu exemplarmente, depois do juvenil sonho genovês, o fim da cidade na fase do capitalismo que começa nos últimos anos da década de setenta e que estamos ainda, sem visíveis êxitos, vivendo.
Giorgio Agamben. La Città e la Poesia. In.: Categorie Italiane. Studi di poetica e di letteratura. Roma-Bari: Laterza, 2010. p. 155. (Tradução: Vinícius Nicastro Honesko)
Imagem: Giorgio Caproni (fotografia de Dino Ignani)
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