A vida é a arte da tauromaquia. Envolve o risco, a trapaça, o gesto, o bailado contra uma natureza estúpida e bela.
Mas não é a tauromaquia cantada por Goya e Leiris, o épico tauromático, o espetáculo viril e trágico.
Esta vida é sórdida como a corrida de touros magros no pequeno coliseu mexicano, onde a mística do toureiro sub-proletário não ultrapassa o escapulário e o mezcal.
Afinal, nada ultrapassa a sordidez, Blanchot morreu em uma solidão teatral e sórdida: Des Esseintes em uma quinta pequeno burguesa de Île-de-France. Sonhando em ser um dos moleques mexicanos de Buñuel.
Todo épico e toda tragédia são parodicamente farsescos. A metafísica não explica os gritos desesperados do mundo.
O desespero é sempre mundano, sem edulcorações.
A vida bebe em botecos baratos, onde os espelhos de Narciso foram quebrados a pauladas. Os cacos estão cobertos pela poeira misturada ao suor.
A vida é a memória da mulher assassinada na periferia de Ciudad Juárez, como nos livros daquele chileno intempestivo.
Imagem: Fotograma de "Los olvidados", de Buñuel.
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