“Característica
fundamental de uma guerrilha é a mobilidade, o que lhe permite estar, em poucos
minutos, longe do teatro específico da ação e em poucas horas longa da região
onde ela se dá, se necessário; que lhe permite mudar permanentemente de frente
e evitar todo tipo de cerco”. Abrir flancos, criar condições, a guerrilha move-se
constantemente, é fracionada em pequenos grupos, adapta-se ao campo de combate
e às circunstâncias, seus acampamentos são provisórios, nada de pesado que
impeça o deslocamento rápido, imperceptível, sob a selva. Uma guerrilha não
exige a mobilização de uma grande tropa, sempre um alvo fácil e previsível, é de
suas fragilidades e inconstâncias que uma guerrilha extrai sua maior força. Movediça
comunidade guerrilheira de camaradas. Teoria do foco e teoria da deriva. Ser guevarista
é saber-se de antemão perdido, mas não se resignar a isso. É ser um quixote na
arte do possível, mesmo que este possível tenha de ser instaurado nas condições
mais adversas, contra os possíveis claustrofóbicos de Otto Von Bismarck. Não há condições objetivas
independentes de sujeitos que agem no mundo, “não há um só instante que não
carregue consigo a sua chance revolucionária”. Ser guevarista é pensar e agir com coragem e atenção, uma
contínua mobilidade aliada a uma intransigência, nada aceitável na maleabilidade
preguiçosa do presente, em torno daquilo do que não se pode compactuar. Piglia: “É
aquele que queima sua vida na chama da experiência e transforma a política e a
guerra em centro dessa construção. E aquilo que ele apresenta como exemplo, o
que transmite como exemplo, é sua própria vida. (...) Uma figura extrema do
intelectual como representante puro da construção do sentido (ou, em todo caso,
de certa maneira de construir o sentido).” O guevarismo como o mais autêntico
bovarismo político: um apátrida Che revivendo e politizando “O coração nas trevas”, de
Joseph Conrad, no Congo da metade anos 60.
Imagem: Che Gevara no Congo, 1965.
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