Os coxinhas são netos da "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", de 1964, e filhos do "Movimento Cara Pintada", de 1992. Seus gritos por moralização na política, seu véu de "apartidarismo" e seu liberalismo de quintal são a casca adiposa em cujo centro estão o medo arcaico do perigo do “comunismo" e a defesa intransigente de suas heranças. É o conservadorismo de direita amedrontado por fantasmas vermelhos e reformas agrárias goulartianas. O coxinha é o homem-médio que, formado massa, alimenta o fascismo. Não se preocupa em estar na moda - ao contrário de seu co-irmão, o hipster - contenta-se com uma indumentária frugal, porém de marcas caras, cujo símbolo é a camisa polo invariavelmente colocada dentro da calça. Mas uma frugalidade apenas aparente: os coxinhas alimentam a indústria automobilística, de armas, segurança privada e de entretenimento, incluindo aqui shoppings centers de elite, o cinema blockbuster e o mercado do sexo. O coxinha vive para casar, ter filhos e, quando fraturada a instituição que determina sua vida, para salvá-la recorrerá, com sua legítima esposa de caríssimo casamento, até mesmo às casas de swing. De todo modo, os coxinhas casados são os consumidores típicos dos grandes bordéis ou flats de "acompanhantes". O coxinha nunca exprime sua ira, salvo na multidão e motivado pela televisão ou por leituras invariavelmente medíocres. Veja, Estadão e Folha de São Paulo são as bíblias do coxinismo, Geraldo Alkmin é seu arquétipo encarnado. Os coxinhas são indivíduos do meio-termo, da lei e da probidade, mesmo que para consegui-la tenham de defender o estado de sítio, a vigilância integral e a barbárie de um Estado policial. Em São Paulo, capital do coxinismo, a maior parte dos membros fascistas da PM (ou seja, a quase totalidade da tropa!) são, em seu cotidiano sem farda, típicos coxinhas. E a maior parte dos coxinhas são ou aspiram, na condição de eternos concurseiros, entrar para o funcionalismo público. Mas não por idealismo, simplesmente em prol da palavra sagrada de todo coxinismo: estabilidade. Menos impostos, menos ideologia, queremos criar nossos filhos e filhas em um ambiente de paz, servos da ordem, das Igrejas, da austera ética do trabalho, dos costumes saudáveis, queremos segurança para nossos carros, casas e pertencentes conquistados com suor, queremos um mundo sem corrupção, partidos de esquerda, vagabundos e menores delinquentes, queremos, sim, ser bovinos, precisamos de um pasto aprazível e de vigias, regramentos sobre tudo, até que sobrevenha nossa morte, onde, júbilo, serem coxinhas felizes junto ao Eterno Estável de um cemitério.
quinta-feira, 18 de julho de 2013
O que é um coxinha?
Os coxinhas são netos da "Marcha da Família com Deus pela Liberdade", de 1964, e filhos do "Movimento Cara Pintada", de 1992. Seus gritos por moralização na política, seu véu de "apartidarismo" e seu liberalismo de quintal são a casca adiposa em cujo centro estão o medo arcaico do perigo do “comunismo" e a defesa intransigente de suas heranças. É o conservadorismo de direita amedrontado por fantasmas vermelhos e reformas agrárias goulartianas. O coxinha é o homem-médio que, formado massa, alimenta o fascismo. Não se preocupa em estar na moda - ao contrário de seu co-irmão, o hipster - contenta-se com uma indumentária frugal, porém de marcas caras, cujo símbolo é a camisa polo invariavelmente colocada dentro da calça. Mas uma frugalidade apenas aparente: os coxinhas alimentam a indústria automobilística, de armas, segurança privada e de entretenimento, incluindo aqui shoppings centers de elite, o cinema blockbuster e o mercado do sexo. O coxinha vive para casar, ter filhos e, quando fraturada a instituição que determina sua vida, para salvá-la recorrerá, com sua legítima esposa de caríssimo casamento, até mesmo às casas de swing. De todo modo, os coxinhas casados são os consumidores típicos dos grandes bordéis ou flats de "acompanhantes". O coxinha nunca exprime sua ira, salvo na multidão e motivado pela televisão ou por leituras invariavelmente medíocres. Veja, Estadão e Folha de São Paulo são as bíblias do coxinismo, Geraldo Alkmin é seu arquétipo encarnado. Os coxinhas são indivíduos do meio-termo, da lei e da probidade, mesmo que para consegui-la tenham de defender o estado de sítio, a vigilância integral e a barbárie de um Estado policial. Em São Paulo, capital do coxinismo, a maior parte dos membros fascistas da PM (ou seja, a quase totalidade da tropa!) são, em seu cotidiano sem farda, típicos coxinhas. E a maior parte dos coxinhas são ou aspiram, na condição de eternos concurseiros, entrar para o funcionalismo público. Mas não por idealismo, simplesmente em prol da palavra sagrada de todo coxinismo: estabilidade. Menos impostos, menos ideologia, queremos criar nossos filhos e filhas em um ambiente de paz, servos da ordem, das Igrejas, da austera ética do trabalho, dos costumes saudáveis, queremos segurança para nossos carros, casas e pertencentes conquistados com suor, queremos um mundo sem corrupção, partidos de esquerda, vagabundos e menores delinquentes, queremos, sim, ser bovinos, precisamos de um pasto aprazível e de vigias, regramentos sobre tudo, até que sobrevenha nossa morte, onde, júbilo, serem coxinhas felizes junto ao Eterno Estável de um cemitério.
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4 comentários:
ácido!
Já conheci coxinhas com camiseta de banda de rock. Mas o recheio é sempre o mesmo.
ACRE
DEIXOU UM CHEIRO ACRE DE PÓLVORA
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