segunda-feira, 28 de abril de 2014

Lágrimas



Brotam-me lágrimas
com um sentimento visceral
indiscernível, impronunciável.

Toda palavra é vã
a força da vida precária se desfaz
nenhum mistério, nenhuma sombra.

Só uma luz branca e ofuscante,
as pálpebras fazem seu trabalho
nenhuma palavra diz o peso de uma lágrima.

Me derramo como nuvem
em chuva de estilhaços indizíveis.
Crua, vida, crua.

Nenhum tempero, só a dor
do vazio existir.
Querer algum é válido.

Explosão.
Minhas vísceras jamais serão lidas
Onde estava enquanto me esvaia?

Só um silêncio
inóspito, estrangeiro silêncio
das lágrimas que me brotam.

E seus sais destroem minha carne
inútil ilusão: a vida.
Sopram ventos hostis

E só me vem o silêncio.

Imagem: Tiziano. Maria Madalena. 1532. Galleria Palatina (Palazzo Pitti), Firenze. 
 

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