segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Ideia da matéria


A experiência decisiva que, para quem a tenha tido, diz-se ser tão difícil de contar, não é nem mesmo uma experiência. Ela não é nada além do ponto em que tocamos os limites da linguagem. Mas o que agora tocamos não é, obviamente, uma coisa, tão nova e tremenda que, para descrevê-la, faltam-nos as palavras: é, muito mais, matéria, no sentido em que se diz "matéria de Bretanha" ou "entrar na matéria" ou, ainda, "índice para matéria". Nesse sentido, aquele que toca a sua matéria, encontra simplesmente as palavras para dizer. Onde termina a linguagem começa não o indizível, mas a matéria da palavra. Quem nunca atingiu, como em um sonho, essa dura substância da língua, que os antigos chamavam "selva", é, mesmo se se cala, prisioneiro das representações.
É como para aqueles que voltaram à vida depois de uma morte aparente: na verdade, não morreram verdadeiramente (pois assim não teriam voltado), nem se liberaram da necessidade de dever um dia morrer; mas, liberaram-se da representação da morte. Por isso, interrogados sobre o que lhes sucedeu, não têm nada a dizer sobre a morte, mas encontram matéria para muitos contos e para muitas belas fábulas sobre sua vida.

Giorgio Agamben. Idea della materia. In.: Idea della Prosa. Macerata: Quodlibet, 2002. p. 15. (Tradução: Vinícius Nicastro Honesko).

Imagem: Edward Hopper. Hotel room. 1931, Thyssen-Bornemisza, Madrid.

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