Como um tigre acuado, retraído e sem modos, face a face com uma imagem (uma forma minuciosamente conhecida) em que a história parece apresentar sua inexorável faceta vingativa, vejo-me imerso na catástrofe do presente. "Que 'as coisas continuam assim' - eis a catástrofe. Ela não consiste naquilo que está por acontecer em cada situação, e sim naquilo que é dado em cada situação." Antes de o sol nascer é com a catástrofe da noite que sinto ter que acertar a conta; e como o tigre que se carregava de energia (nebulosamente retraído e sem que seus membros pudessem se mover - a incapacidade do gesto, do acolhimento), como que antes do salto, agora tento descolar-me da continuidade histórica (esta tentativa frustrada de construir a salvação, mas que apenas garante a vida na sua abjeta condição da repetição infernal de um castigo) para fazer explodir um movimento destes tesos músculos que me impedem qualquer gesto. Como o tigre devo saltar e deixar-me ir com o movimento da catástrofe, pois, "para que um fragmento do passado seja tocado pela atualidade não pode haver qualquer continuidade entre eles." E o descontínuo é a catástrofe; e na ruptura também não basta um simples salto ao léu, como armar as velas em meio à calmaria, já que a desventura pode acontecer no primeiro sorriso visto depois do salto (que, de fato, pode ser o mesmo já conhecido e que imobiliza o tigre antes do salto), mas é necessário ser estratégico: não basta dispor de velas, é decisivo ter a arte de posicioná-las para o bom vento da história.
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